"Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados, em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem." Carlos Drummond de Andrade





quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Geração Delivery: Adolescer no Mundo Atual


Estude para ser alguém na vida!

A geração delivery é o universo do já pronto, do descartável, do já pensado, da rápida entrega e do rápido consumo... E, de preferência, com pouco esforço! Como conseqüência, ouvimos queixas de pais e de professores que seus filhos/alunos não se esforçam, não querem estudar, não se responsabilizam, não se comprometem É neste novo paradigma, o do botão, que a jovem “geração delivery" está se formando. "Ele estuda dessa forma, distrai-se nesse esquema, vê televisão ligado a vários canais ao mesmo tempo através da TV Cabo, em três línguas diferentes. O computador tem cinco janelas ativas trabalhando simultaneamente, eles estão”on-line" em todos os sentidos. Enquanto acedem aos amigos virtuais, numa orelha têm o telefone, na outra o celular..." Eles estão o tempo todo a estabelecer contatos múltiplos, "rápidos porém superficiais, com o mundo todo, literalmente falando. Tudo ocorre por meio de soluções imediatas, não há tempo para esperar, as decisões e as soluções vêm completamente sem elaboração". O mesmo se passa nos vínculos afetivos onde é a geração do "ficar com", que implica apenas o momento, "tudo rápido, até intenso, mas superficial".

Geração do "gadget" tecnológico e da cultura "trash" (tudo é descartável), são os "fast-kids" a quem não é exigido pensar muito ou imaginar muito pois está tudo prontinho para o "input". Os educadores, ao contrário, estão estressados de tanto trabalhar! Qual a repercussão dessa dinâmica social na qualidade das aprendizagens?
Certamente, já devem estar deduzindo...A aprendizagem é entendida como complexa. Dentre os múltiplos fatores que interferem no ato de aprender estão os aspectos ligados ao desejo de aprender e a mobilidade que o aprendiz desenvolveu e que ele coloca a serviço dessa jornada. Muitos de nós já ouvimos alguém afirmar: “Estude para ser alguém na vida!”. Essa é uma das verdades-parciais que temos de ‘ressignificar’. Essa afirmativa era verdadeira quando freqüentar a escola bastava como um diferencial na vida da pessoa. O diploma era até pendurado na parede. Hoje os nossos jovens, apesar de terem tirado a média requerida pela escola, constatam que na vida do trabalho a média é outra. Ser alguém na vida quer dizer: saber pensar e fazer alguma coisa de uma forma bastante particular. Apesar da universalidade do conhecimento, o mercado de trabalho pede “conhecedores”que transitem entre as dimensões do geral e do específico; das peculiaridades de uma camada social ou de uma determinada comunidade ao conhecimento cientificamente organizado. Dentre as qualidades que o mercado de trabalho tem exigido dos cidadãos, a mais solicitada é a possibilidade de resolver problemas de forma competente, ética e responsabilidade, é não somente querer fazer, mas fazer, decidir com rapidez e trazer soluções para as diversidades que se apresentam no mundo real e globalizado..
Se por um lado nossas crianças e jovens da geração delivery têm tido uma dinâmica social voltada ao tudo pronto e de rápida entrega, por outro a sociedade exige um cidadão com instrumentos para identificar o conhecimento, interagir com ele e reconstruí-lo.
Se dar bem na vida, estudar, aprender, escolarizar-se e tirar um diploma, são conceitos que têm sido revistos. Os professores, diante dessa nova realidade, têm tido de repensar o desempenho de seu papel profissional, sua forma de trabalhar e de se relacionar com seus alunos e com o conhecimento. Se as facilidades da tecnologia e as dificuldades do corre-corre do dia-a-dia conspiram contra a construção do sujeito apto a atender as exigências dos
novos tempos, que a escola e os educadores de modo geral, estejam atentos a essa realidade e às reais necessidades de seus alunos e familiares.
Não podemos esquecer que educar é ser formador de cidadãos instrumentalizados para viver com responsabilidade os desafios dessa nova era.

Cybelle Weinberg, psicopedagoga, usa este desabafo real para dizer que "ser adolescente, hoje, é muito mais difícil do que o foi em épocas passadas". Porquê? Porque hoje é tudo mais fácil. Aparentemente, talvez.

"Os pais são mais compreensivos, mais tolerantes, há maior liberdade sexual, maior liberdade de expressão, maior liberdade para a escolha profissional, maior liberdade para isto, maior liberdade para aquilo". Porém, "o que vemos são jovens com pouca iniciativa, angustiados diante da escolha profissional, deprimidos, stressados, com dificuldade para sair da casa dos pais e definir o seu próprio caminho." Cuidado, isto não é para generalizar, mas, diz quem lida com adolescentes, é espantoso o número de jovens e adolecentes que estão nesta situação.

Esta idéia subjaz ao livro "Geração Delivery - Adolescer no mundo atual", coordenado por Cybelle Weinberg. Foi este ano publicado no Brasil (Sá Editora) e dá conta da preocupação de psicólogos, médicos, psiquiatras, pedagogos e professores com os nossos adolescentes. Ao longo de 16 capítulos, escritos por diferentes autores, se percebe a inquietação com os jovens, só aparentemente autônomos, só superficialmente independentes, nada preparados para a vida. De adultos, claro. Se a chegarem a ter, claro.

Fala-se de geração "delivery". O que é? Hipóteses de definição: 1. libertação, livramento, resgate; 2. Exoneração, desobrigação; 3. entrega; 4. distribuição, expedição; 5 transferência, remessa.


"Quem trabalha ou convive com adolescentes precisa saber: o jovem que recebe tudo caidinho do céu, sem conversa, sem proximidade, sem ter de ouvir aqueles antigos blábláblás de sempre (é claro que adaptados aos dias atuais) sente-se mais inseguro ainda, solitário, fica deprimido e inundado por uma terrível sensação de desamparo". Sofia de Reis.

Há quem pense que se está a criar o homem "light", um homem descomprometido com posições, ideologias e papéis sociais, para quem tudo pode ser e tudo vale. "(...)Trata-se de um homem relativamente bem informado, mas de escassa educação humanista, muito votado ao pragmatismo, por um lado, e a vários assuntos, por outro. Tudo lhe interessa, mas de forma superficial; não é capaz de fazer uma síntese daquilo que percebe e, como consequência, se converte numa pessoa trivial, superficial, frívola, que aceita tudo, mas que carece de critérios sólidos em sua conduta. Tudo nele se torna etéreo, leve, banal, volátil, permissivo" ("O Homem Moderno - A Luta contra o vazio", 1996, edit.São Paulo: Mandarim)

Fala-se dos jovens com crises de pânico, depressão, violência, toxicodependência, anorexia, suicídio... e eu pergunto como Cybelle: E os outros, os adolescentes que não adoecem, que não dão trabalho, onde estão?

Ela responde: "Vivemos o fim das ideologias, não há conflitos de gerações, não há contra o quê se rebelar. Eles estão em casa, pedindo pizza pelo telefone, vendo o filme alugado, navegando na Internet. Sair de casa? 'Pra quê?'"

Citam-me Renato Russo: "O futuro não é mais como era antigamente...". E tem que ser? Corrigem-me as citações, indo buscar Adorno: "Não se trata de conservar o passado, mas de resgatar as esperanças do passado". E eu respondo com Gertrude Stein, nos anos 20, para Hemingway: "Vocês são a geração perdida, todos vocês". E fico na dúvida: Será que todas as gerações são perdidas? Eu gosto de pensar que a minha não é. Ou esta, a "geração delivery", do "quero-quero", "já-já", do click, arrisca-se a ser mais perdida do que as outras?


MINHAS IDEOLOGIAS ReAdaptado do texto de ISABEL PAROLIN, pedagoga, psicopedagoga e mestre em psicologia da educação. É professora e palestrante em cursos, congressos, encontros, pós-graduações para professores e pais. Autora de vários livros e artigos, dentre eles o lançamento “Professores Formadores: A relação entre a Família, a Escola e a Aprendizagem”.(Ler mais...)

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Category: Educação
Tags: Ideologias, ensino, história, professores, educação e ideologia, religião e ideologia


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